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sexta-feira, 19 de março de 2010

Perfilino Neto conta a história do rádio e celebra 50 anos de carreira


Para aqueles que adoram rádio como eu, não pode deixar de ler o livro Memória do Rádio, escrito pelo jornalista e radialista Perfilino Neto. O livro foi lançado está semana na loja Pérola Negra, em Salvador. Acompanhei abaixo um pouco das histórias vivenciadas por Perfilino durante 50 anos de Carreira.

Predadores

O livro é o primeiro de outros volumes que virão, narrando passagens do rádio soteropolitano e também denunciando o descaso que a memória do rádio local tem sofrido. “Demorei um ano para escrever o material. Nele, revelo como a maioria dos diretores de emissoras foi e ainda é predadora do rádio”, afirma. Ele lembra, por exemplo, como uma série de entrevistas feitas pelo respeitável historiador Cid Teixeira foi para a lata do lixo. “Imagine… entrevistas de valor histórico feitas com Jorge Amado, mãe Menininha do Gantois, Glauber Rocha e outras personalidades. Tudo jogado fora, graças a um capricho de José Wilson, o coordenador da rádio na época, que achava esse material obsoleto. No Brasil, a memória vai para o lixo.”

Acervo rico

Perfilino, desde o início da carreira, fez questão de guardar todo o material que achava importante, montando um rico acervo próprio. Pelos seus cálculos, ele tem cerca de 18 mil LPs, 14 mil CDs, seis mil compactos de vinil e três mil fitas K-7. “A chegada do homem à Lua, Juscelino Kubitschek cantando serestas, Pelé dedicando o milésimo gol às crianças, o que você quiser de música ou documento radiofônico eu tenho”, garante.

Ele conta ainda que desenvolve um trabalho contínuo de digitalização de discos raros, transformando-os em mp3 e CDs: “Uso a tecnologia de softwares como o Sound Forge em prol da memória”. Perfilino é vidrado em rádio desde pequeno, quando seu pai trouxe para casa o primeiro Philips valvulado. “Meu pai era um radiomaníaco que não dispensava nem a Voz do Brasil. Como ele, logo fiquei fascinado pelo rádio. Aos 12 anos já sabia que seria radialista.”

Imbatível

O início na profissão foi aos 19, levado por um amigo locutor à Radio Cultura, onde ficou por 43 anos. “Comecei como operador, mas aos poucos estava fazendo de tudo: locução, reportagem e edição”. Na época, exigia- se muito dos futuros radialistas. Era preciso ter cultura geral, saber escrever e ter noções de vários idiomas. Bem diferente de hoje, quando as emissoras investem pouco na formação dos profissionais e muitas apelam para programas popularescos.

Em seu acervo de registros sonoros históricos, Perfilino Neto tem 18 mil LPs

O pesquisador acha que, por mais que outros veículos ganhem espaço, o rádio vai se manter imbatível. “Afinal, a TV ou outra mídia visual cobra a presença das pessoas, e o rádio não. Você pode ouvi-lo enquanto está fazendo outras coisas. Lavando louça ou dirigindo, por exemplo.” Na opinião de Perfilino Neto, o rádio também aproveita a modernidade para mudar suas ferramentas, usando o celular e a internet como aliados. Mas, em essência, continua o mesmo.

Encontros com Gonzagão e o papa

Estar em contato com uma porção de artistas e personalidades é para Perfilino Neto uma das melhores coisas de ser radialista e jornalista. “Ao longo de 50 anos de carreira, pude conhecer vários ídolos meus, como Cartola, Moreira da Silva e Jackson do Pandeiro”, lembra o radialista, que também é pesquisador da MPB.

As lendárias rainhas do rádio Emilinha Borba e Marlene também foram entrevistadas por ele: “Impressionante como elas eram simples e acessíveis, bem diferente das estrelas de agora. Os artistas de hoje são muito vaidosos e é uma tremenda dificuldade para falar com eles. Há sempre um empresário ou um segurança no meio”, afirma. Mas, de todas as personalidades, ele destaca o seu encontro com Luiz Gonzaga, em 1974, e com o papa João Paulo II, em 1980.

“Luiz Gonzaga era o ídolo da minha infância, que eu tanto ouvia em Juazeiro. E, quando o entrevistei, fiquei deslumbrado. Já no início da conversa ele começou a brincar comigo. Tirou até sarro do meu nome: ‘Oxe, Perfilino, que nome esquisito! Vou te chamar só pelo teu sobrenome Ferreira Neto’, disse”. A empolgação com o papo foi tão grande que Perfilino conversou com o rei do baião por quatro horas. “Até que ele parou e me disse: ‘Ferreira Neto, seu cabra da peste…’ Aí senti que já era hora de parar.”

Já o encontro com o papa João Paulo II quase lhe rendeu uns safanões.“Na inauguração da Igreja de Nossa Senhora dos Alagados, ao me aproximar do papa para fazer uma pergunta, um segurança de repente me ergueu pelo colarinho. A sorte é que o papa viu aquilo e intercedeu por mim. Nesse meio-tempo, ainda consegui fazer uma pergunta sobre o que ele achava da reforma agrária na América Latina.”


Ficha

Livro Memória do Rádio

Autor Perfilino Neto

Editora Couto Coelho

Preço R$ 40 (240 págs.)

Venda: Na loja Pérola Negra. Rua Marechal Floriano, 28, Canela.

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